Será que os museus são seguros?

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A presunção de que museus constituem o ambiente mais seguro para a custódia do patrimônio cultural tem sido progressivamente desafiada por uma série de eventos adversos. Embora historicamente concebidas como baluartes para a preservação de bens de valor simbólico e material, e a despeito da contínua profissionalização e de investimentos em segurança, diversas instituições têm demonstrado vulnerabilidades críticas.

Incidentes recentes, tanto em âmbito nacional quanto internacional, ilustram essa fragilidade. No Brasil, o incêndio que em 2018 consumiu aproximadamente 90% do acervo do Museu Nacional, decorrente de falhas na infraestrutura elétrica, representa um marco trágico. Soma-se a isso o furto de obras de Candido Portinari e Henri Matisse da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, com a particularidade de que uma das peças já havia sido subtraída da mesma instituição anteriormente.

No cenário internacional, o Museu do Louvre foi palco não apenas de um audacioso roubo de joias avaliadas em 88 milhões de euros, mas também de danos a livros raros por vazamento de água. Paralelamente, no British Museum, um procedimento de manutenção inadequado causou danos irreparáveis aos Mármores do Parthenon, alterando de forma irreversível as relíquias milenares. Tais episódios não podem ser classificados como meros imprevistos quando resultam de falhas evitáveis de gestão e segurança.

Esses fatos adquirem especial relevância no contexto do debate global pela restituição de bens culturais. Frequentemente, instituições localizadas no Norte Global, ao se oporem à repatriação de artefatos, invocam o argumento de que possuem melhores condições de conservação — uma premissa paternalista que é diretamente contestada pelos próprios sinistros. A defesa do British Museum na disputa com a Grécia pelos Mármores do Parthenon, mesmo após os danos causados sob sua guarda, exemplifica essa postura contraditória.

A dinâmica se repete em âmbito nacional. A repatriação do Manto Tupinambá da Dinamarca para o Brasil culminou em sua destinação ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em detrimento da comunidade indígena de Olivença (BA), herdeira direta da etnia que produziu a peça. A decisão, fundamentada na suposta necessidade de condições museológicas específicas, revela uma hierarquia de custódia que marginaliza as comunidades de origem.

A recorrência de falhas evidencia que a narrativa da segurança absoluta é insustentável sem mecanismos de controle externo e responsabilização, como a fiscalização por Tribunais de Contas. Contudo, a questão fundamental reside em desconstruir o próprio mito da superioridade protetiva dos museus. A segurança do patrimônio cultural não é uma regra universal, mas uma análise casuística que depende de múltiplos fatores: a natureza do bem, a estrutura da instituição, o orçamento disponível, o envolvimento da comunidade e a transparência na gestão. A proteção efetiva do legado cultural demanda o abandono de premissas absolutas em favor de um modelo de responsabilidade contextual e compartilhada.



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