O “desafio do desodorante”, trend de aplicativos de vídeos curtos que levou Sarah Raíssa Pereira de Castro, 8 anos, a inalar gás de desodorante aerossol na última semana, segue em apuração pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Sarah teve morte cerebral no último domingo (13/4). Os responsáveis pela publicação dos vídeos podem pegar até 30 anos de prisão.
O delegado-chefe da 15ª DP, João Ataliba Neto, afirma que o responsável pela publicação do desafio poderá responder pelo crime de homicídio duplamente qualificado (através de meio que pode causar perigo comum e por ter sido praticado contra menor de 14 anos de idade), cuja pena pode alcançar os 30 anos de prisão.
“O celular da criança foi apreendido, e o laudo pericial demora cerca de 30 dias para ficar pronto. Assim que tivermos essa prova técnica, poderemos avançar nas investigações”, completou o delegado-adjunto da 15ª DP, Walber Lima.
“Se ficar comprovado que ela acessou isso, a rede social por meio da qual ela assistiu ao vídeo também será oficiada, para que consigamos mais informações acerca do criador das imagens”, disse Walber.
O laudo de local também deve determinar a dinâmica de como a criança teria inalado o produto. “A versão do avô foi bastante semelhante à da mãe da criança no sentido de apontar que os parentes não teriam percebido comportamento anormal em Sarah nos dias mais recentes”, completou o delegado.
Ainda em busca de justiça, o pai de Sarah, Cássio Maurilio, posicionou-se a favor de uma regulamentação para as redes sociais que atuam no país.
Em entrevista ao Metrópoles nesta quarta-feira (15/4), Cássio Maurilio defendeu que, além de uma supervisão dos pais, é preciso que as plataformas tenham responsabilidade sobre o que circula dentro delas. “Elas [plataformas] têm que ter responsabilidade sobre o tipo de vídeo que elas estão transmitindo e para qual tipo de público. Porque, hoje em dia, toda criança tem um celular, o mundo está conectado, está muito fácil o acesso”, disse.
Um dia antes, no enterro da filha, Cássio já havia dito à imprensa que pretende processar o aplicativo acessado por Sarah e também a marca do desodorante que ela inalou. Para ele, o app e a empresa do produto “são igualmente responsáveis pela morte” da menina.
“A plataforma não cria mecanismos para impedir conteúdos perigosos publicados [na rede]. […] A empresa do desodorante, por sua vez, não fala sobre o risco de morte caso o produto seja inalado. Todo material que oferece risco iminente de morte tem que ter [isso] escrito. Os antitranspirantes que eu olhei não têm [informações] sobre o risco”, disse.