O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pediu que a Corregedoria da Polícia Militar (PMDF) investigue o caso em que PMs filmados dando um “mata-leão” em um jovem de 18 anos e no avô dele, um senhor de 63 anos, dentro de um supermercado de São Sebastião. Imagens registradas por câmeras de segurança instaladas no estabelecimento flagraram toda a confusão, ocorrida na noite de quarta-feira (16/4).
Por meio da 3ª Promotoria de Justiça Militar do Distrito Federal, o MP requereu que a corregedoria enviasse uma resposta em até cinco dias. O caso já é investigado pela Polícia Civil do DF (PCDF).
O jovem e o avô relataram que sofreram agressões, com direto a golpe de “mata-leão” e jatos de spray de pimenta no rosto sem necessidade.
A coluna Na Mira, do Metrópoles, teve acesso aos termos de declaração de sete PMs envolvidos na ocorrência, além dos depoimentos de Daniel dos Santos Alencar e de José Francisco de Andrade, avô do rapaz. Segundo o jovem, o início do tumulto ocorreu quando ele estava na fila do açougue do supermercado e percebeu um homem com casaco verde rindo e debochando. Daniel relatou que não deu ouvidos, pegou uma sacola com carne e seguiu rumo ao setor de verduras. “O homem me seguiu e perguntou se eu o reconhecia como o policial que me conduziu à delegacia uma vez”, contou.
Daniel afirmou que o policial à paisana passou a xingá-lo de “ladrão”, sem qualquer motivo aparente. Disse ainda ter ligado para a mãe e contado o ocorrido. O avô de Daniel, que estava próximo do supermercado, correu para o estabelecimento. Quando ambos já estavam na fila do caixa, uma equipe da PM se aproximou para fazer a abordagem do jovem e do avô. Daniel passou a filmar a ação policial, mas teve o telefone arrancado das mãos, como mostra o vídeo abaixo.
Veja as imagens da confusão:
As imagens das câmeras mostram o momento em que os policiais entram no supermercado e vão em direção aos dois. “Os PMs chegaram e já tomaram o celular e não deram ordem para colocar as mãos na cabeça. Um dos policiais deu um tapa no meu peito e derrubou o meu avô, que tentava me proteger”, disse. Outros três praças tentavam conter o rapaz, enquanto outros deram uma gravata no idoso após jogá-lo ao chão.
Quando havia apenas uma viatura no local, o jovem foi algemado. Com a chegada de um segundo carro oficial, Daniel foi colocado dentro do cubículo. Antes disso, segundo ele, um policial jogou spray de pimenta em seu rosto, quando já estava dentro da viatura. “Informei que estava passando mal e que tinha asma, mas ouvi que eles não se importavam”, disse.
Ainda segundo o rapaz, ele afirmou aos policiais que havia filmado que não tinha ocorrido nenhum desrespeito aos PMs. “Em resposta, um dos militares disse que, se eu estava gravando, então iria tomar. Logo em seguida, ele destruiu o celular batendo no engate da viatura, espatifando todo o aparelho”, relatou.
Na delegacia, o jovem ainda narrou ter sido ameaçado de morte por um integrante da corporação. “Ele disse que não me mataria de farda, mas sim quando estivesse sem ela”, contou.
Procurado pela coluna, o advogado Lucas Fagner Fernandes, que defende o jovem e o avô, se posicionou sobre o caso. “O que se espera da PMDF é a garantia dos direitos fundamentais; que, em suma, os profissionais quedaram-se inertes a observar quando agridem um idoso e o seu neto, sem observância ao uso progressivo da força e aos ditames legais. Iremos buscar pela Justiça e a responsabilização dos envolvidos”, disse.
Na delegacia, os PMs relataram que estavam em serviço quando atenderam ao chamado de outro colega que estava de folga e havia sido ameaçado e ofendido por um homem dentro de um supermercado. O policial que comandava a guarnição afirmou que foi em direção ao indivíduo e deu ordem para que ele colocasse as mãos na cabeça para ser abordado. O PM disse no termo de declaração que o jovem estava com o celular na mão em posição de filmagem e se recusou a ser abordado.
Após supostamente ouvir “não vou botar as mãos na cabeça porra nenhuma”, o policial informou ter tirado o celular das mãos do rapaz. “O indivíduo passou a gritar e fazer escândalo, além de ter vindo em direção ao policial como se quisesse tomar o aparelho telefônico ou entrar em confronto. Naquele momento, outro integrante da guarnição empurrou o suspeito para que ele pudesse ser contido e algemado”, disse o PM em seu depoimento.
Ainda de acordo com os militares, o avô de Daniel teria passado a “tumultuar” a abordagem, sendo necessário contê-lo pelo braço e pescoço. Um PM disse que, “após tomar o aparelho celular de Daniel, entregou o telefone para outro policial e que não se recorda de como o aparelho foi parar no chão”. Depois de ser contido, o idoso foi levado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde vomitou sangue.