Um criminoso faccionado do Primeiro Comando da Capital (PCC) “trabalhava” como jagunço para garantir a segurança de um assentamento supostamente ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Brazlândia. O criminoso, preso por policiais do 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM), havia sido condenado por organização criminosa, homicídio, roubo e ameaça, mas estava foragido. A prisão ocorreu no último domingo (20/4), mas só foi divulgada nessa quinta-feira (24/4).
MST e Incra negam existência de assentamento onde faccionado foi preso
O faccionado costumava ficar de prontidão na entrada do assentamento “Zé Pereira”, em uma área rural de Brazlândia, sempre empunhando uma espingarda calibre 12. Policiais militares contaram com informações levantadas pelo serviço de inteligência da corporação, que identificou o bandido, considerado de alta periculosidade.
No entanto, as informações, divulgadas pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e confirmadas pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), foram negadas pelo MST. Além disso, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), não há assentamentos ou acampamentos com o nome de “Zé Pereira” na capital do país (leia mais abaixo).
A prisão ainda contou com apoio de equipes do Batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam). Em março deste ano, a Polícia Civil do DF já havia prendido outro foragido da Justiça que integrava o PCC. Danúbio de Jesus Gomes, conhecido como “Uba”, era apontado como um dos principais traficantes de Brazlândia. Foragido havia dois anos, Uba foi preso na casa construída pelo pai dele. O imóvel era monitorado pelos policiais, que verificaram saídas do criminoso apenas em horários estratégicos para evitar ser detido.
Alvo de diversas operações da PCDF, Danúbio era investigado desde 2019, mas conseguia escapar das autoridades repetidamente. Além do crime tráfico de drogas, o “Patrão de Brazlândia” era apontado como um dos responsáveis por fazer as “cerimônias de batismo” dos novos integrantes do PCC na região administrativa.
Danúbio tem uma extensa ficha criminal, com delitos que incluem lavagem de dinheiro, ameaça, apresentação de falsa identidade, coação de testemunhas, porte ilegal de arma de fogo e violência doméstica.
Ele também é acusado de ordenar execuções e instaurar um regime de terror na comunidade, com expulsão de comerciantes e imposição de toque de recolher na área.
Por meio de nota, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Distrito Federal e Entorno comunicou que a informações divulgadas são “equivocadas”, “caluniosas, “sem lastro na realidade” e repassadas pela PMDF, “que não tem condições de provas concretas para afirmar tal situação”.
“O tal sujeito exposto na matéria como membro do PCC nunca fez parte do MST, não tendo nenhum vínculo com absolutamente nada em referência ao movimento, sujeito esse de quem nunca nem ouvimos falar. […] Tentar vincular o MST com qualquer organização criminosa é, no mínimo, um desrespeito e uma injúria com as mais de 450 mil famílias trabalhadoras acampadas em áreas do MST e as mais de 100 mil famílias assentadas pelo movimento nestes 41 anos de luta pela reforma agrária e por justiça social no campo. Não aceitamos e nem aceitaremos tais acusações caluniosas”, destacou a nota.
A organização acrescentou que, em 41 anos, tornou-se a maior produtora de arroz orgânico da América Latina; conta com “dezenas de cooperativas e associações de comercialização de inúmeros produtos saudáveis, sem utilização de agrotóxicos, oriundos de acampamentos assentamentos do MST; e contribuiu para alfabetizar, junto ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), mais de 200 mil pessoas, entre jovens, adultos e idosos”.
“Nós prezamos por nossa história, com princípios éticos e morais reconhecidos nacionalmente e internacionalmente. Não aceitaremos jamais calúnias, desinformação, inverdades com o nome de nosso movimento. Combateremos sempre as fake news e as tentativas de vincular nosso nome, nossa história, com qualquer tipo de organização criminosa”, concluiu o MST.
Também por meio de nota, a Superintendência do Incra no DF e no Entorno comunicou que “não há na base de dados qualquer acampamento ‘Zé Pereira’ com famílias cadastradas em Brazlândia”.
A reportagem consultou, ainda, a lista de assentamentos cadastrados junto ao instituto e verificou que o único com o nome de “Zé Pereira” e reconhecido pelo Incra fica no Tocantins.