Produtos em aerossol estão presentes em praticamente todos os lares brasileiros — sejam desodorantes, sprays de limpeza, aromatizantes de ambiente ou tintas. No entanto, quando inalados ou ingeridos de forma acidental ou intencional, representam sérios riscos à saúde e podem levar à morte súbita, como alerta o médico Paulo Guimarães, especialista em prevenção de acidentes domésticos e primeiros socorros a crianças e adolescentes.
Sarah Raíssa Pereira de Castro, de 8 anos, foi vítima de um “desafio” da internet que leva crianças e adolescentes a inalarem gás de desodorante aerossol. “O aerossol contém solventes químicos e gases altamente tóxicos, como butano, propano e isobutano. Esses componentes podem causar intoxicação aguda, danos neurológicos e até parada cardíaca”, explica.
O médico destaca ainda que, principalmente em crianças e adolescentes, a exposição a esses gases pode ser fatal em poucos minutos. “Existe um mito de que só faz mal quando consumido, mas seja inalando ou borrifando na boca, pode provocar reações graves, como queimaduras químicas, sufocamento e, em casos extremos, morte súbita”, reforça.
Em caso de ingestão acidental, é fundamental procurar atendimento médico imediato e levar a embalagem do produto para que os profissionais possam identificar a substância.
Além disso, educar crianças e adolescentes sobre os perigos de produtos químicos presentes em casa é uma forma essencial de prevenção.
Entenda o caso
Na última quinta-feira (10/4), Sarah foi encontrada desacordada pelo avô em sua casa, em Ceilândia, ao lado de um celular e de um frasco de desodorante aerossol. Ela havia inalado o produto, supostamente ao tentar reproduzir o chamado “desafio do desodorante”, uma trend popularizada na internet que incentiva crianças e adolescentes a inalar o gás do desodorante pelo maior tempo possível.
Após ser socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Sarah foi levada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde sofreu uma parada cardiorrespiratória e, apesar dos esforços médicos, teve morte cerebral confirmada no domingo (13/4). O velório ocorreu nesta segunda-feira (14/4), reunindo familiares, amigos e colegas de escola em um clima de profunda comoção.
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) instaurou inquérito para investigar as circunstâncias da morte e, principalmente, como a criança teve acesso ao conteúdo do desafio.
O celular de Sarah também foi apreendido e encaminhado para perícia, com o objetivo de rastrear a origem dos vídeos e identificar os responsáveis pela publicação do desafio nas redes sociais.
Segundo o delegado-chefe da 15ª Delegacia de Polícia, João Ataliba Neto, os criadores e divulgadores do conteúdo podem responder por homicídio duplamente qualificado, cuja pena pode chegar a 30 anos de prisão, por se tratar de um crime cometido contra menor de 14 anos e por meio que pode causar perigo comum.