Há mais de meio século, o Morro da Capelinha, em Planaltina, se transforma em palco de fé, arte e comunidade. Em 2025, a tradicional encenação da Via-Sacra chega à sua 52ª edição e terá inicio às 15h, consolidando-se como o evento cultural mais longevo do Distrito Federal, com uma expectativa de receber 100 mil pessoas em uma verdadeira peregrinação coletiva.
Para o secretário de Cultura do DF, Cláudio Abrantes, a Via-Sacra é mais do que uma tradição religiosa. Com uma trajetória pessoal ligada ao evento há 35 anos, Abrantes já interpretou Jesus Cristo, integrou a diretoria da associação organizadora e hoje atua como um dos apóstolos.
“A Via-Sacra moldou minha vida. Comecei adolescente num grupo de jovens da igreja e nunca mais me afastei”, conta.
A celebração também é símbolo de doação e trabalho voluntário, são 1,1 mil atores se preparando por 40 dias ininterruptos. Nenhum participante recebe cachê. Figurinos, cenários, mão de obra e talentos são doados por quem acredita no projeto, que funciona como uma escola de formação artística, revelando atores, bailarinos, cenógrafos e profissionais da cultura.
“A Via-Sacra não é só para católicos. Vem gente de várias religiões — ou até sem religião — movida pela mensagem de empatia, esperança e humanidade”, continua o secretário.
Reconhecida oficialmente como patrimônio cultural do Distrito Federal, o evento recebeu um investimento de R$ 1,8 milhão destinado à infraestrutura, segurança, som e iluminação. A Via-Sacra de Planaltina é um elo entre passado e presente.
Tradição viva
Realizada na cidade que antecede a fundação de Brasília e abriga a pedra fundamental da capital, a encenação é hoje símbolo da identidade local. O projeto inspira iniciativas em outras regiões do DF, como São Sebastião, que realiza intercâmbios com os organizadores.
O inicio será às 15h com a Celebração da Santa Cruz, presidida pelo Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa. Às 16h, os participantes passarão a acompanhar a representação dos últimos momentos de Jesus, desde sua condenação até a crucificação e, depois, ressurreição.
O espetáculo percorre as 14 estações da Via Sacra e conta com a atuação de crianças e jovens, que interpretam personagens como Jesus, Maria, soldados romanos e o povo de Jerusalém. Figurinos, gestos ensaiados e narrações emocionantes ajudam a dar vida à apresentação, que também será transmitida ao vivo pelo YouTube, possibilitando a participação virtual do público.
Além da apresentação principal na Sexta-Feira da Paixão, o evento inclui uma rica programação paralela, como a Via-Sacra da Criança, que celebrou sua 31ª edição este ano, e oficinas de formação para novos integrantes — garantindo a continuidade da tradição.
“Quem sobe o morro não assiste apenas a uma peça. Vive uma experiência de fé e pertencimento. A emoção de participar é tão grande que a gente esquece o cansaço. É como se cada ano fosse o primeiro”, convida Cláudio.
Confira as linhas disponíveis
504.2 e 504.3 – Saem de Sobradinho II, passando pelo Mestre d’Armas e pela DF-230, respectivamente, até o Morro da Capelinha.
617.1 – Parte da Rodoviária do Plano Piloto (box 3 da Plataforma Superior), seguindo pelo Eixo Norte.
609.2 – Linha circular que sai de Planaltina e vai direto até o local do evento.
Dicas para quem vai pela primeira vez
Para quem vai assistir à Via-Sacra no Morro da Capelinha pela primeira vez, a dica é simples: levar roupas leves, água, capa de chuva, protetor solar e , acima de tudo, espírito aberto. A celebração acontece sob sol ou chuva e reúne famílias inteiras, dos avós aos netos.
Outras celebrações
A força das manifestações culturais e religiosas no Distrito Federal também se reflete em outras iniciativas que unem fé, arte e comunidade. Nos dias 25 e 26 de abril, é a vez do Gama receber a 4ª edição do Cortejo de Ogum, que ocupará a região da Ponte Alta Norte com uma programação repleta de espiritualidade, música e saberes tradicionais de matriz africana. A celebração ao orixá guerreiro terá cortejo, oficinas, apresentações culturais, feijoada comunitária, atendimento social gratuito e feira de artesanato — tudo com acesso livre ao público.